Plantas alimentícias não-convencionais (PANC): já ouviu falar?

 Conheça o que são, formas de consumo e seus benefícios

PANC é um termo que se refere a todas as plantas (ervas, hortaliças, flores, frutas, legumes) que possuem uma ou mais partes comestíveis, sendo elas espontâneas ou cultivadas, nativas ou exóticas que não estão incluídas em nosso cardápio cotidiano, portanto, não temos costume de consumir (ainda).

Em sua maioria são plantas que crescem espontaneamente, sendo comumente confundidas com ervas daninhas, e típicas de determinadas regiões do país, cultivadas por agricultores familiares, principalmente entre os povos mais tradicionais, mas provavelmente você pode encontrar algumas em jardins e até pelas calçadas (mas cuidado! Depois de ler aqui e conhecer alguns exemplos de PANC não vai sair arrancando as PANC que encontrar pela rua e comer, é preciso saber da procedência do cultivo e manejo para garantir a qualidade e segurança do seu consumo, pois, podem conter contaminantes biológicos como microrganismos, vermes, etc  urindos de fezes e urina de animais como cachorros e gatos, ou mesmo toxicológicos como agentes químicos de qualquer natureza).

As PANC vêm se tornando cada vez mais conhecidas e utilizadas na tanto na fitoterapia e medicina popular, como também na gastronomia por apresentarem na sua composição minerais, vitaminas, fibras, antioxidantes, e algumas promoverem ações terapêuticas, antioxidantes e anti-inflamatórias. Porém, o consumo de tais plantas e hortaliças deve ser realizado respeitando suas características e formas de preparo para que tais efeitos sejam obtidos com segurança.

Das milhares de espécies de PANC que existem, é reconhecido que consumimos por volta de apenas 30 espécies de plantas, que atendem a 95% da demanda humana. Reflete aí quais são as plantas que você mais consome. Alface, tomate, couve, rúcula talvez?. Pois é, aí caímos na chamada monotonia alimentar, e assim deixamos de absorver uma variedade de nutrientes essenciais que a rica natureza nos oferece.

É importante ainda salientar que as PANC, por serem nativas são livres de agrotóxicos (portanto orgânicas), no entanto, é preciso ter informação adequada a fim de evitar confusões e consumir plantas tóxicas, que não são comestíveis.

Vamos ver alguns exemplos então?

Capuchinha (Tropaeolummajus)

É uma planta ornamental de aroma agradável, atraem parasitas evitando que possam atingir outras plantas. Seu sabor picante lembra a rúcula e o agrião. Contém vitamina C, carotenoides e flavonoides, possui propriedade expectorante, antioxidante, anti-inflamatória e diurética.

Em muitas receitas são vistas em saladas, mas suas flores, folhas e sementes são ótimos chás.

 

Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Mill.)

Encontrada na região Sudeste, é popularmente chamada de carne dos pobres pelo alto teor de proteínas, também contém cálcio, magnésio, zinco, vitamina A, vitamina B9, vitamina C, triptofano e fibras. Pode substituir hortaliças folhosas, ser refogada ou compor massas e farofas.

 

Peixinho (Stachys byzantina)

Também chamada de peixinho-da-horta, lambarizinho, lambari-de-folha, orelha-de-coelho e orelha-de-lebre, recebe esse nome  por apresentar sabor similar ao de peixe,  e suas folhas serem aveludadas. Rico em fibras, proteínas, potássio e vitamina C. Geralmente é preparada empanada frita ou assada.

 

Dente-de-leão (Taraxacum officinale)

O dente-de-leão é fonte de vários nutrientes e substâncias biologicamente ativas.  Contém vitaminas (A, K, C e complexo B), minerais (cálcio, magnésio, potássio, zinco e ferro), possui compostos com ação antidiabética. Desintoxicante, diurético, antioxidante,  é integralmente comestível - raízes, caules, folhas e flores. A raiz do dente de leão contém inulina que inclui fruto-oligossacarídeos (FOS) e exerce ação prebiótica. É possível prepará-lo em saladas, chá, no suco verde, refogado em preparações como farofas e sopas. Sua raiz assada e moída pode inclusive substituir o café.

Vinagreira (Hibiscus sabdariffa)

Também chamada de caruru-azedo, azedinha, quiabo-azedo, a vinagreira possui partes comestíveis como folhas jovens e pontas dos ramos, assim como a flor e as sementes. 

Pode ser consumida crua ou refogada. Das flores também se faz chá. 

Rica em vitamina C, antocianinas e polifenóis, exerce propriedades antioxidantes.

 

Beldroega (Portulaca oleracea)

É da mesma família das onze-horas (Portulaca grandiflora), mas, além de estas não serem comestíveis, elas também se diferenciam pelo formato das folhas. As folhas da beldroega são chatas e ovaladas ou arredondadas, enquanto as da onze-horas são mais finas e compridas.

Possui ômega 3, potássio, magnésio, cálcio, ferro, fósforo, fibras e compostos fenólicos, além de ser antioxidante e anti-inflamatória.

Pode ser consumida de diversas formas como em massas, saladas, farofas, sopas, caldos, refogados e sucos.

 

Podemos citar ainda a flor de abóbora, folha de batata-doce, cará-do-ar (orelha de padre), taioba e muitas outras.

Gostou do tema e quer conhecer mais? 

Recomendo muito que leia o livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: Guia de Identificação, Aspectos Nutricionais e Receitas Ilustradas”, dos autores Valdely Ferreira Kinupp & Harri Lorenzi fundadores do termo e pioneiros na pesquisa de PANC.

 Fontes consultadas:

Liberato, P. da S., Lima, D. V. T. de, & Silva, G. M. B. (2019). PANCs - Plantas Alimentícias Não Convencionais e seus benefícios nutricionais. Environmental Smoke, 2(2), 102–111. https://doi.org/10.32435/envsmoke.201922102-111

S. Qureshi, S. Adil, M.E. Abd El-Hack, M. Alagawany & M.R. Farag (2017) Beneficial uses of dandelion herb (Taraxacum officinale) in poultry nutrition, World's Poultry Science Journal, 73:3, 591-602. https://doi.org/10.1017/S0043933917000459

Wirngo, F. E., Lambert, M. N., & Jeppesen, P. B. (2016). The Physiological Effects of Dandelion (Taraxacum Officinale) in Type 2 Diabetes. The review of diabetic studies : RDS, 13(2-3), 113–131. https://doi.org/10.1900/RDS.2016.13.113